COMO UM MEME NA INTERNET ME LEVOU A ESCREVER UM ENSAIO SOBRE IA
Semana passada entrei numa nova onda de memes de IA que viralizou na Internet e que está sendo chamado de “Barbie Box”, algo como “Barbie na Caixa (de Boneca)”.
Basicamente, o ChatGPT transforma você em um daqueles bonequinhos de brinquedo para crianças acima de 4 anos de idade. Tudo que você precisa, é fazer o upload de uma foto sua de corpo inteiro e de alguma criatividade.
Forneci a foto abaixo para o ChatGPT.
Você pode ser específico, informando ao ChatGPT suas preferências de roupa, pose, expressão, acessórios, estilo (retrô, moderno) – pode fornecer nome e título para o bonequinho ou pode ser vago.
Optei por ser mais para vago e usei o prompt abaixo, em inglês:
Inglês: “Create an Action Figure of me based on this uploaded photo featuring a “Pensions’ Un-boring” figure. I’d like my outfit to look like an airline pilot pose, a capitain hat, and a retro packaging style”
Português: “Crie um bonequinho de mim baseado na foto que estou fornecendo, reproduzindo a figura de um ‘Deschatizador da Previdência Complementar’. Eu gostaria que minha roupa fosse de um piloto de avião, com quepe de capitão numa embalagem com estilo retrô”.
A IA criou essa figura abaixo.
Não gostei muito da primeira versão porque veio sem o quepe, então, pedi para ajustar. A segunda tentativa acrescentou o quepe e de quebra, colocou uma gravata. Gostei , mas a aparência facial da nova imagem (a seguir) ainda soava muito artificial.
Então tentei de novo e a terceira versão do bonequinho ficou com o rosto mais realista, sem jeito de boneco de plástico.
Nāo se pode esperar perfeição e quanto mais você pedir modificações, mais esquisito fica o resultado. Na última tentativa (acima) fiquei parecendo uma versāo piorada do Russel Crowe, de óculos.
Todo o exercício me fez refletir sobre o que é a IA e como nós - seres humanos criativos - devemos interagir com ela. Isso me levou a escrever o texto que segue.
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A IA está engolindo o trabalho e claramente, tem grande apetite.
Primeiro, devorou o Excel. Triturando números, cuspindo tabelas dinâmicas e transformando analistas de dados em “clicadores” de botões.
Porquê? Porque planilhas são o alimento da IA: estruturadas, previsíveis, prontas para automação.
Depois, veio o Word. Minutando relatórios, elaborando contratos, até melhorando nossa prosa e estilo de escrever. A IA mantém tudo sobre controle, deixando analistas e gestores imaginado o que sobrou.
PowerPoint? Está no início. Elaborar slides requer talento, narrativa, aquela centelha humana que a IA não consegue imitar... ainda.
Uma apresentação de PowerPoint envolve persuasão, tem a ver com tomada de decisões, relacionamentos e como você conta uma história.
Isso nos leva a uma grande transformação no mundo do trabalho, que muitos não querem reconhecer. O trabalho vem se tornando mais e mais repetitivo, menos racional, mais orientado por processos. Já notou como a palavra compliance se tornou comum?
O emprego atual tem menos a ver com intuição, imaginação, relacionamento, julgamento, parcerias, ideias, carisma, empatia.
O emprego e o trabalho hoje em dia têm mais a ver com padronização, dados, otimização, gestão de riscos, burocracia, regras, rigor.
De certa forma, a melhor maneira de proteger sua função num futuro com mais IA e uma cultura baseada em lógica, mensuração, KPIs e dados, é descobrir como não ser transformado em um robô.
Muitas perguntas, poucas respostas
O problema com Inteligência Artificial – ou pelo menos a razão de nem os especialistas saberem o que vai acontecer – nāo é desconhecermos como ela vai mudar nossa realidade.
É fácil entender que a IA é uma tecnologia com alcance e implicações diferentes das inovações que experimentamos até aqui.
O problema é que estamos na fronteira entre dois mundos e ninguém consegue traçar um esboço claro de como um emerge do outro.
Como resultado, quase um século depois dos primeiros experimentos com IA terem surgido, ainda não sabemos o que esta obra-prima da tecnologia significa para a nossa compreensão da realidade.
Não nos faltam previsões do que vai acontecer. Qual delas é de sua preferência, é uma questão de gosto ou de sua inclinação filosófica, porque as previsões não podem ser submetidas a testes experimentais.
Conforme brincou certa vez o físico N. David Mermin, falando sobre “teoria quântica”, algo que cai como uma luva para o futuro da IA:
“Novas opiniões aparecem todo dia. Nenhuma delas desaparece”
O que é IA?
IA é sexy (como diria o @lucasnobrega, da EnergisaPrev). IA está aprofundando a desigualdade, transformando o mercado de trabalho e destruindo a educação, diriam outros.
A IA alavancará a economia. A bolha da IA está prestes a estourar. A IA trará abundância e levará a humanidade a florescer no universo, ouve-se por aí.
A IA nos matará a todos ...
Sobre o que diabos todo mundo está falando?
Inteligência Artificial é a tecnologia mais top do nosso tempo, mas o que é ela? Parece uma pergunta estúpida, mas respondê-la nunca foi tão urgente.
A resposta pode ajudar a entender a razao de ninguém saber o que vai acontecer, por que todo mundo discorda e por que deveríamos nos importar com isso, dado a velocidade com que vem evoluindo.
Em apenas dois anos (2022-2024) a IA progrediu assim:
Ferramenta nāo é habilidade
O que o advento da IA significa para pessoas que ganham a vida trabalhando com palavras, imagens, sons e ideias?
O medo não declarado que as pessoas sentem, mas raramente externam, tem a ver com procurar constantemente se manter à frente do que a IA pode fazer. As pessoas estāo usando IA (e muito!), mas mesmo assim estão preocupadas.
Na medida em que mais e mais ferramentas sāo desenvolvidas e se tornam disponíveis, as pessoas sentem que estāo numa corrida contra uma força que é, de longe, muito mais poderosa do que elas.
Mas o trabalho cognitivo e criativo não deveriam ser uma corrida – o ponto da tecnologia não é esse. O conhecimento não é movido por eficácia, ele é movido por “expressão”.
A evolução profissional e artística não tem a ver com dominar todas as técnicas e tendências. Tem a ver com levar você de quem você é hoje para quem você será amanhã.
Ao invés de querer correr mais depressa do que os robôs, devemos explorar o que já fazemos bem e usar novas ferramentas para realçar isso.
A IA não é o fim do trabalho cognitivo nem do trabalho criativo.
A IA é mais uma superfície a ser moldada e as pessoas que vão moldá-la não são as que têm as melhores ferramentas. São as que nunca perderam de vista quem elas são.
Grande abraço,
Eder.
Opiniōes: Todas minhas | Fonte: “What does quantum theory really tell us about the nature of reality?”, escrito por Daniel Cossins | “What is AI?”, escrito por Will Douglas Heaven | “The tool is not the skill”, escrito por Harris Socke | “AI’s eating the office, and it’s got a clear appetite”, escrito por Tom Goodwin | “Let ChatGPT Turn You Into an Action Figure: How It Works”, escrito por Amanda Kooser | “Two Years of AI Progress”, MetaKnowing r/ChatGPT (Reddit).